Denise Mairesse*
Freud revelou o quanto a criação depende da sublimação de nossas pulsões, isto é, de um redirecionamento de sua satisfação através da sexualidade para sua satisfação em fins considerados socialmente nobres ou “úteis” como o trabalho e a aprendizagem.
A experiência da arte, a mais nobre das atividades de criação, há muito é praticada nos trabalhos de cura e tratamentos de doenças sejam elas psíquicas, psicossomáticas ou seja qual for a classificação que se pretenda dar aos efeitos da vida no corpo. O trabalho de criação tece uma série de cortes, rupturas, desvios. Compõe um outro ritmo, outra cadência ao corpo. Na fluidez da pulsão desconectada dos velhos sentidos, o corpo se liberta, torna-se leve, sublime. É o brilho do encontro com o que há de mais belo, com a verdade do sujeito transposta na sua criação.
O trabalho em cerâmica, o movimento do corpo entrelaçado ao barro, construindo um novo corpo e depois novos corpos - objetos da arte desse encontro – da composição de forças, memórias e imagens que se imiscuem dando forma ao desejado, revela-se não somente terapêutico, mas analítico. No ato de amassar, costurar, despedaçar, modelar o barro, transforma-se também o corpo, um dando forma ao outro. Modificando um modo de ser, pensar, sentir, viver. Deixar-se afetar pelo barro é deixar-se afetar pelo desejo, é o que faz da terra uma obra.
*inspirada por Kátia Schames (do Atelier Kátia Schames)
Nenhum comentário:
Postar um comentário