Ao contrário do silêncio que muitas vezes a dor nos impõe, o que estamos ouvindo com maior freqüência nesses últimos dias é o som do sofrimento das milhares de pessoas que vem sendo acometidas pelos infortúnios da natureza. Os noticiários se tornaram de um dia para o outro cenário de tragédias de intensidade das produzidas no cinema. O que escutamos é barulho, muito barulho, sons de terror, desespero, sons da morte! Sons que vem do Japão, de São Lourenço, que vieram também do Rio e outros. Pessoas perdem suas vidas, seus familiares, suas casas e muitas vezes sua esperança. Como racionalizar, elaborar quando não se está (aparentemente) implicado na produção das tragédias. Como diz o psicanalista Julio Conte em artigo de seu blog, “a Terra é um ser vivo que está em movimento constante. O narcisismo nosso de cada dia nos dá a sensação de estabilidade, coerência e razão. Mas basta um tremor para nos lembrar que somos feitos da matéria mais frágil e inconsistente...” E estes fatos nos fazem por instantes iguais, tornam o planeta um espaço democrático, são esquecidas ou respeitadas as diferenças em prol de um valor comum: a vida. Que esses episódios nos remetam não somente a um sentimento maior de solidariedade (o que é muito bom), mas a lembrarmos de nossa condição trágica enquanto finita e frágil. E, assim, na consciência de uma humildade perante a grandeza da vida, da natureza e do universo, construir um sujeito mais implicado na educação de si e invenção de uma humanidade menos selvagem e mais capaz de produzir a paz. Que a natureza já seja um elemento forte a nos preocupar seja para preservá-la, seja para nos protegermos de seu espreguiçar.
Confesso que esta reflexão, tão boa e articulada pela Denise, nos faz pensar na fragilidade da nossa pretensa onipotência. O espreguiçar da natureza é quase um convite forçado a entrarmos na 'festa' da razão...
ResponderExcluirConcordo Otávio, nossa onipotência é pura fantasia! Talvez em alguns momentos necessária pra aguentarmos o trágico da nossa existência. Abraço!
ResponderExcluirSeu texto soberbo sobre a (des)razão de nossa fragilidade me fez pensar na minha própria maneira de ser frágil. Estou seguindo seus pensamentos.
ResponderExcluirOlá, Miguel. Esse tipo de comentário me move a escrever!Obrigada! Espero que meus pensamentos sempre ajudem.
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