19 de mai. de 2011

O Trágico e a Idéia de Morbidez na Perspectiva Psicanalítica.

Trecho da tese de Doutorado - Condição de Morbidez: o avesso do trágico?

A dimensão do trágico desde a perspectiva psicanalítica passa pela identificação na arte trágica de uma ética. Essa diz respeito a uma posição do sujeito frente ao Outro e à lei que o orienta no campo do desejo. É na medida em que essa dimensão, desde o olhar lacaniano, aponta para uma hybris, uma desmedida, um desconhecimento inerente à condição de humano, que a tragédia, enquanto arte que imita a vida (ARISTÓTELES, 1997) apresenta em sua ação duas posições que se tornam fundamentais para se pensar a clínica e, portanto, a Morbidez. Posições essas que se referem à função do belo, “sendo precisamente a de nos indicar o lugar da relação do homem com sua própria morte” (LACAN, 1997, p. 354), e à função do bem, campo das garantias onde o saber está pré-concebido, lugar de certeza onde se supõe um bem maior, absoluto que visaria estabelecer a ordem e proteger o sujeito do mal-estar causado por sua própria humanidade. Isto é, uma função na qual são oferecidos objetos para tamponar a falta e satisfazer a pulsão desde um gozo absoluto. Porém, o que Lacan através, principalmente, da tragédia "Antígona" demonstra é que se paga um preço alto por esse apego ao campo dos bens, pelo não querer saber de si e se fixar no universo das identificações. E, entre esses preços, estão as consequências do que aqui se apresenta como o estado de Morbidez. O sujeito na condição de Morbidez, como já discutido, busca um estado zero de tensão, vacila frente à alteridade, disso não se quer saber, o trabalho da pulsão se direciona para um apagamento da falta. Porém, cedo ou tarde, o excluir-se desse saber surge como uma dívida, cujo pagamento se dá com um sofrimento ainda maior.

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