06/11/2010
"JOSÉ E PILAR" – UM "FILME" SOBRE TEMPO, VIDA E AMOR
O documentário estreado esta semana em Porto Alegre nos fala de verdades! Talvez algumas das raras verdades possíveis de se confirmar pela experiência. É assim que, para mim, apresentaram-se entrelaçados os temas vida, amor e tempo desde uma ótica materialista característica de Saramago. Em suas falas e expressões, testemunhamos uma delicadeza relativa ao seu olhar sobre a vida e, portanto, também sobre a morte cuja negação de Deus não compromete um modo de fé na existência e dedicação pela humanidade. Saramago parece ser movido pelo “belo” do ser, por mais que este comporte o trágico. Com simplicidade e ternura envolve-se com seu público, distribui beijos nas pequenas rodas, lamenta as multidões por perder o singular de cada sujeito e ter que se limitar ao que tem que ser feito: “fazer o que tem que ser feito” como diz no documentário (talvez com outras palavras). Dá autógrafos, entrevistas, pousa para fotos... ! Porém, de forma bem humorada, desenha com as palavras gestos de afeição e ao mesmo tempo ironia e crítica. Como em uma entrevista para imprensa no RJ, quando responde para um jornalista que lhe interroga sobre seu comentário de que suas respostas às entrevistas são como “caldos requentados” e ele lhe responde que “a culpa é vossa”, pois sempre fazem as mesmas perguntas, então só lhes restam as mesmas respostas”. Rs!
Entre fortes risadas, algumas lágrimas e muita atenção lá estava o público de “José e Pilar” vidrado na tela sob as imagens da vida e obra desse autor e sua amada. O filme se desenrola como um plano de viagem, atravessado por duas lógicas: a do tempo do Chronos (do tempo linear, dos nossos relógios) e do tempo do Ayon (o tempo do acontecimento, do desejo). Na linearidade do Chronos a vida de Saramago e Pilar passa pelo ordenamento dos compromissos, pela idade presa a realidade biológica. Mas, é na ordem do Ayion que eles vivem sua existência, que se dá a produção de vida e que se faz possível a realização do novo. Pela realidade cronológica ao qual a maioria está submetida, como salienta e reclama Pilar, Saramago deveria estar descansando com uma manta sobre seu corpo esperando a vida passar. É a recusa do instituído que faz com que um novo livro “A Viagem do Elefante” se produza e que um filme “Ensaio sobre a Cegueira”, aconteça também para ele, cuja obra de Fernando Meirelles remete Saramago a experiência de sua emoção com a escritura do livro. Escrituras sem pontuação, sem fim... Continuidade era o que queria Saramago.
O que não falta no documentário é exemplo de inspiração para ir adiante, fazer o que tem que ser feito, como um destino do qual não se escapa. Não um destino escrito nas estrelas, mas no “desejo”, desde o que cada um de nós tem de singular. Vivendo a vida com o gostinho de “vale a pena” Saramago teve a possibilidade de buscar o seu desejo e ao mesmo tempo construí-lo diante dos movimentos da vida, jogando-se sem temor para realizar sua obra e seu ser. É isso que mostram Pilar e José dando exemplos de força e entusiasmo na verdade também do amor que constituíram enquanto casal, daqueles raros que lembram o significado de felicidade.
NOTA desta autora:
Para variar, texto escrito entre bocejos... por isso perdoem os erros de português, más construções de frases... Mesmo ciente disto, penso que a hora de escrever é aquela em que as idéias pedem pelas palavras!
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