3 de fev. de 2013

"E Agora, Aonde Vamos?" Para quem já viu o filme. E um pouco de Psicanálise.

Os manuais de Psicologia, os compêndios de Psiquiatria bem como os livros de auto-ajuda adoram nos classificar em "títulos-tipos". Talvez, entre tantas razões, este seja um modo de tentar capturar o sujeito em sua subjetividade e domá-lo em toda sua possibilidade de ser outro. Alguém que não identificamos como o mesmo, um igual ou diretamente reconhecido nos remete a um estranhamento. Sempre, na história da humanidade, o outro em sua estranheza foi motivo de medo e agressão. O estranhamento que vem pela diferença e ao mesmo tempo passa pelo mais aterrorizante do que nos é familiar faz o outro parecer uma ameaça.
No filme "E Agora, Aonde Vamos?" constatamos isso tragicomicamente ao testemunhar o surpreendente e feliz final escolhido pelo autor. A disponibilidade feminina nessa estória para o amor faz as mulheres entrarem em "guerra" pela paz. Capazes de se fazerem outras de si mesmas, essas mulheres nos enchem de esperança enquanto platéia e enquanto sujeito. Esperança de vencer o medo do estrangeiro que há em nós recebendo em troca a paz que ele pode nos trazer. O desassossego da alteridade é maior enquanto fantasia do que na experiência. A ameaça contida na diferença se dissolve no encontro com o outro. O sabor do novo, também percebendo o que há de familiar, invade o peito e manda embora toda angústia arraigada quase como parte da função desse orgão.
Ao elaborar a idéia e criar o conceito de "estrutura clínica", Lacan, freudianamente, inaugura uma série de possibilidades pro sujeito. Abre os portões da clausura psicodiagnóstica sem deixar de contemplar a necessidade da psicopatologia de construir um campo de ato e interpretação clínica. Ao delimitar uma diferença entre Neurose, Psicose e Perversão e identificar cada estrutura contendo infinitas combinações, tantas quantas forem o número de sujeitos existentes, isto é, cada um é um, Lacan instrumentaliza o analista para sua posição junto ao discurso de cada sujeito. A estrutura dá o tom. Situa o maestro e o músico. Cada música é uma música, não há repetição, não existe outra igual como não existe outro igual. A ilusão da semelhança nos exclui do melhor da vida, do novo, da surpresa, da transformação.

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