13 de dez. de 2012

Alguém Com Quem Conversar , ou melhor, "Take This Waltz"

“Take this waltz” ou como foi tristemente substituído pelo título de “Entre o Amor e a Paixão” trata-se de um filme sobre as questões mais íntimas do desejo. A tentativa de banalizar o sentido do desejo e do amor pelo título escolhido em português traduz a futilidade com que costuma ser abordado esse tema não somente na indústria do cinema, mas no cotidiano das nossas vidas. O que se percebe pelos mais variados títulos dos livros de auto-ajuda que se repetem na mesma linguagem ingênua e premeditada visando capturar o sujeito pela sua ânsia de preencher toda e qualquer falta como se fosse possível um gozo absoluto e perfeito que tornasse a vida o reflexo de uma ilusão. Feitas as reclamações iniciais, vamos aos elogios. Sarah Polley, diretora e roteirista canadense é de uma sensibilidade artística que nos encanta pela inteligência e beleza de suas escolhas neste filme. Desde os atores, músicas, imagens, cores, odores, humores! A vida como ela é se faz presente em todas as cenas. E mesmo que pareça não estou fazendo uma alusão direta a Nelson Rodrigues e suas tragédias, mas falando do real da vida que não inclui somente o horror do trágico, mas o belo e o simples também. Numa temporalidade exata o filme transcorre como quando, depois de algumas sessões de análise, sonhamos e temos a sensação de ter vivido e elaborado algo de fundamental para seguir... Enfim, o filme fala das escolhas necessárias, da dor, do amor e da coragem! Entre os muitos possíveis amores de se viver, Margot, a protagonista, vive um conflito. No desenrolar da trama lições sobre vida e amor lhe atravessam desde a experiência de outras mulheres. Na fala dessas mulheres se registram, além de versos de conformidade, o saber de uma verdade. A de que o tempo faz seu trabalho na paixão, de que sempre existirá uma lacuna e que dessa ninguém escapa. O que poderia significar dar uma direção ao desejo de “Margot” pela via do sintoma, da repetição, do bem e não do belo. Reforçar uma moral e uma culpa pelo desejo de transgressão, pelo desejo de desejo. Mas a estória sutilmente surpreende fazendo uma virada no que espera o senso comum e uma moral religiosa. Margot, sem saber sabe, distingui o que é de uma lacuna e o que é de um impossível. Tem coragem, ousa e ao deparar-se com a lacuna, titubeia e enfim descobre... não tinha outra escolha.. mesmo que assim desejasse. A falta que constitui qualquer relação não significa a conformidade com uma escolha de repetição, do mesmo, do idêntico, do aparentemente seguro. Não significa abrir mão do seu desejo e adoecer aos poucos num desfilar de queixas e rancores. Como atesta o alcoolismo da cunhada. Mas significa sim não esperar do outro que seja tudo que lhe falta. Significa sim a aposta na vida desde o que pode esperar de si, do que pode querer de si. O filme não nos apresenta o espaço do “entre uma paixão e um amor”. Mas quatro espaços e três amores. Onde um é o buraco necessário para que os outros três se movimentem. Sem a falta que constitui cada um de nós não há escolha possível por nenhum amor. Nem pelo amor próprio. Somente na experiência de viver essa falta e se deixar atravessar por ela que Margot a reconhece como constituinte possibilitando finalmente um encontro. “Alguém Com Quem Conversar” talvez fosse uma opção feita por mim para um título em português... nada próximo a riqueza do original, porém que me lembra o quanto é a possibilidade da palavra que coloca em cena o desejo. E me pareceu que o filme mostra isso. Lindo filme!

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