25 de ago. de 2015
Um Gesto de Memória
Em tempos de “espetáculo na sociedade”, esquecemos do antigo valor da fotografia. A cada olhadela no celular lá está ela, a “selfie”. A cada evento mil cliques... Passamos por pessoas ou lugares que nos demandam curiosidade ou fascínio e já empunhamos nossa “máquina-phone” e pronto, mais alguns cliques. O gesto fotográfico cada vez mais exercido lança imagens ao vento, imagens lindas, engraçadas, diferentes, algumas nos causam estranhamento, outras tristeza, outras encantamento. Postamos, compartilhamos e queremos nos fazer representar por elas. Elas falam por nós. São tantas e a todo instante que fazemos ou miramos que por vezes esquecemos ou simplesmente não pensamos em um antigo valor daquele ato. Cada imagem guarda e preserva um instante mais rápido que o segundo. Aquele que quando visto nunca mais será encontrado além da sua imagem capturada. A fotografia nos presenteia com essa possibilidade. A de revisitar antigos sítios da nossa “alma”, revisitar afetos, brindar aquela passagem. Como uma música que é capaz de nos remeter a acontecimentos e ao mesmo tempo nos reinventar. As imagens visuais, como as acústicas, também guardam a possibilidade de criação, reinvenção, de nos inscrever em uma nova história. Mudam rumos, constroem destinos. A arte cinematográfica agregando todas essas imagens visuais e acústicas nos leva para essa viagem, muitas vezes sem volta, porque raramente saímos os mesmos de que quando entramos.
Uma volta nem tão grande se fez necessária pra lembrar de que a fotografia é um instrumento de memória. Numa idade ou patologia onde a memória começa a falhar ali está ela, pronta pra contar a nossa história. Um pai que não lembra mais do filho, por exemplo, pode se valer da imagem dos dois no dia do seu aniversário possibilitando resignificar o enunciado “sou teu filho”, ou pelo menos “não sou um estranho”. Mesmo que não sentido, pode ser acreditado. A fotografia testemunha, conta por nós. Que venham muitos cliques... E que nossa memória nos permita lembrar na hora deste gesto o valor de revisitação e reencontro com nós mesmo e com os que já se foram seja da vida, seja da memória.
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Suas colocações são sempre muito bem apresentadas e fazem todo sentido. Sou seu admirador.
ResponderExcluirMauro Staretz.
Obrigada, Mauro. Seja sempre bem-vindo!
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